terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
domingo, 15 de novembro de 2009
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Jorge Garcia evolui e sua obra se destaca
Foto: Silvia Machado
Artigo de 6/11/2009
Jorge Garcia tem 37 anos e quer, por intermédio de sua obra, entender a humanidade e, por extensão, o mundo. Recifense radicado na pauliceia, o coreógrafo afirma partir de coisas que desconhece para aprofundar-se na pesquisa de cada montagem a fim de desbravar, por meio de observações e sensações, as relações que nos entrelaçam e o ambiente em que vivemos.
“Vejo tantas coisas e quero entendê-las melhor. Quando crio é mais para aprender que para falar do que já sei, é por não saber e não por querer explicar”, diz. O que alimenta o artista Jorge Garcia? “Busco a relação com o ser humano. Gosto de estabelecer um universo (de pesquisa) e aprofundar um pensamento. Nem quero saber onde vou chegar.”
Garcia se introduziu no universo da dança aos 19 anos, a partir do forró, da lambada, da salsa. Passou por duas companhias do Recife, a Compassos Cia. de Danças e o Grupo Experimental. Começou a coreografar ainda quando dançava na Cisne Negro Cia. de Dança, na qual ingressou quando tinha 23 anos: Sonho que se Sonha Só, criação independente que assinou ao lado de Laudinei Delgado, Marcelo Bucoff e Paulo Goulart Filho.
Sonho que se Sonha Só entrou em cartaz em 1995 no Centro Cultural São Paulo, pelo projeto O Masculino na Dança. “Fiz muitas parcerias no começo talvez um pouco por insegurança, porém mais pela oportunidade de trabalhar com amigos como Willy Helm.” Parceria, pois, é a palavra-chave. “Não pesquiso sozinho, e sim trocando ideias. O diálogo com as pessoas está presente na minha obra”, revela.
Ao atender a convite de Ivonice Satie em 1996, engrossou o elenco do Balé da Cidade de São Paulo, no qual permaneceu por sete anos. Sua primeira obra (dividida com outros criadores) para a companhia, Baile na Roça, surgiu em 1997, já sob a gestão de José Possi Neto. Depois vieram, entre outras, Divineia (2001, sobre Estação Carandiru, de Drauzio Varella) e R.G. (2006, sobre Radamés Gnattali). Mas não se prendeu ao Balé da Cidade, que não dava inteira vazão à vontade de criar – coreografava para companhias de menor porte.
Fundou com Bucoff o P.U.L.T.S. Teatro Coreográfico em 2000. “Ficamos dois anos juntos. Saía do Balé da Cidade para lá. Foi um exercício diário de criação, pude experimentar um pouco mais”, relata. Em 2002, com Agnaldo Bueno, Delgado, Helm e Osmar Zampieri, criou o Grua – Gentlemen de Rua, que explora o improviso em meio ao público.
Fundada em 2005, a J.Garcia&Cia já traz em seu portfólio quatro montagens: Cantinho de Nóis (2005, sobre a cultura popular), Histórias da 1/2 Noite (2006, sobre Machado de Assis), Um Conto Idiota (2008, sobre a arte do palhaço e o cinema mudo) e Cabeça de Orfeu (2009, sobre a morte).
Garcia procura trabalhar discussões diferentes a cada coreografia, o que sugere uma fragmentação dentro do todo. “Cada trabalho tem um universo tão particular que até tenho dificuldade de falar sobre o conjunto da obra.” Apesar disso, de uma certa maneira uma montagem se conecta a outra: “O ponto principal é o ser humano”.
E não dá por esgotada a pesquisa para um espetáculo. “Sempre estou revendo, refazendo. O ato de mexer na obra é fundamental.” Cantinho de Nóis é de 2002 – antes, portanto, da fundação da J.Garcia&Cia – e passou por uma reformulação para marcar a estreia do grupo, que se deu no Panorama Sesi de Dança. “Cenário, figurinos e cenas foram refeitos.” Um Conto Idiota é uma releitura de Noites de Fortunello (2003, para a Distrito Cia. de Dança) e Cabeça de Orfeu, de Orfee’s Head (que ele desenvolveu em 2007 para a Amsterdam Theater School).
Uma das características mais marcantes de suas criações é a sobreposição de linguagens. “O movimento é pouco para mim, gosto de entender outras artes, outras relações (cênicas)”, resume. Não à toa, cita como referências artísticas Pina Bausch, David Lynch, Lars Von Trier, Wim Vandekeybus e Machado de Assis.
Outra particularidade de suas composições coreográficas é a infiltração do universo popular brasileiro – com o qual convive desde pequeno, no Recife – na dança contemporânea. As manifestações da cultura popular, naturalmente, passam por um filtro antes de ganhar o linóleo. “Você não vê em Cantinho de Nóis passos de maracatu ou xaxado, mas sente esse universo.”
Expandir os limites do palco tradicional é uma tarefa a que ele se propõe. “Embora não descarte apresentações em lugares não convencionais como arena e galpão, digo que o palco italiano tem uma atmosfera que proporciona possibilidades infinitas. Mas sempre tento me moldar aos espaços.”
Novos projetos embalam a J.Garcia&Cia. O coreógrafo anuncia que revisitará Interlúdio (2001, para o Balé da Cidade, sobre a bufonaria) com cinco intérpretes, um a mais que a montagem original. “Está pronto, só esperamos dinheiro para o cenário.” Além disso, um vídeodança baseado no material coreográfico de Um Conto Idiota está em produção – e Cantinho de Nóis embarca para Cabo Verde (África) ainda neste mês.
Garcia, que contabiliza “mais de 30” trabalhos assinados na dança, no teatro, no cinema e no circo, menciona também “um projeto para um grande teatro, com um cenário que tenha um peso grande no espetáculo, com as coisas acontecendo a partir dele”. Take a Deep Breath é o título provisório do trabalho, “que trata da morte mas, na verdade, fala da vida”. A inspiração vem dos livros Felicidade, de Eduardo Giannetti, e Uma Longa Queda, de Nick Hornby.
Filho do ex-atacante Pedrinho, que defendeu as cores do Clube Náutico Capibaribe e de agremiações portuguesas, o coreógrafo revela que na infância se imaginou trocando passes em campos de futebol. “Meu pai achava que eu seria um bom jogador, mas desvirtuei”, graceja. “Mas ele era tão fanático (pelo esporte) que deixava a família em segundo plano. Hoje não torço para time algum, só assisto a jogos da seleção brasileira.”
http://www.conectedance.com.br/materia.php?id=61
Jorge e ela
para Jorge Garcia
Jorge não sabe
quem sabe de Jorge é ela
e nela Jorge se perde
no imaginário de se achar.
Mas achar-se é achá-la
pois se Jorge a possui
é por ela gerado.
Cúmplices na ousadia
reféns da utopia
tramam em segredo:
Ouroborus
mosaico
flor da manhã
homem e mulher
mensageiros do pássaro.
Tudo voa no mundo do seu Deus:
o braço que vai
o tronco que verga
o olhar que se alonga
o corpo invisível.
É dança – oração.
Exala o aroma da nuvem
em busca da forma imprecisa
música que pulsa no coração da terra.
Ela acorda.
Jorge ainda dorme
aninhado em suas tranças.
Sonham com o plenilúnio
a sombra das mangueiras
o burburinho na feira de domingo
o chão de terra - o futebol.
Juntos tecem os retalhos do que virá:
roupa sobre roupa até ficar nu
acender velas, soltar amarras, abandonar portos
a procissão dos peixes, o canto das baleias
o céu, com todas as estrelas, visíveis e invisíveis
a vida humana - casar, descasar, casar
a guerra, a paz, a rede perplexa na varanda.
E mais: o sol a pino, o concreto, o cactos,
a prisão, a abstração, o ruído, o suor
o incenso, a alquimia, o riso, a carícia.
Os dois saem pela janela:
- a procissão das formigas
- os liquens colados às árvores
- o menino e sua pipa
- a rua, o bar, a sinuca...
O relicário brilha por onde passa
símbolo do símbolo – Deus é!
Inês Ferreira da Silva Bianchi
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Agenda de Espetáculos - Um Conto Idiota
28/10 às 20h Céu Parque Veredas
30/10 às 19:30 Céu Paz
11/11 às 19:30 Céu Três Lagos
12/11 às 21h Sala Crisantempo
13/11 às 23h Sala Crisantempo
14/11 às 23h Sala Crisantempo
19/11 às 19:30 Céu Casablanca
05/12 às 21h Kasulo Espaço de Cultura e Arte
08/12 Céu Jaçanã
12/12 às 18h no Centro Cultural da Juventude - CCJ
13/12 às 15h no Centro Cultural da Juventude - CCJ
17/12 às 21h no SESC Ipiranga
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Making of Um Conto Idiota - Vídeo Dança
terça-feira, 1 de setembro de 2009
A J. Gar.Cia foi contemplada pelo 6º edital do Fomento à Dança - Circulação e Subvenção de Companhia.
Em breve será a vez do espetáculo Um Conto Idiota. Enquanto isso a Cia está produzindo um vídeo dança baseado no material coreográfico do Conto. Acompanhe o making of aqui no blog.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
sábado, 30 de agosto de 2008
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Nossa aposta: Jorge Garcia
Depois de se destacarno Balé da Cidade de São Paulo, o coreógrafo pernambucano investe em sua própria companhia de dança
Por Ana Francisca Ponzio
"Esse menino vai ser bom com os pés", dizia Pedrinho, ex-ponta-direita do Náutico de Recife, sobre o filho Jorge Garcia, que desde cedo demonstrava gostar de bola. O talento que o pai profetizava acabou se manifestando de fato, só que longe dos gramados. Nos anos 90, ao trocar Pernambuco por São Paulo, Jorge engatinhava na carreira de bailarino. Hoje, reconhecido entre os pares, o também coreógrafo investe numa nova e promissora empreitada: consolidar seu próprio grupo de dança.
Em 1972, quando Jorge tinha apenas 1 ano, Pedrinho foi convidado para jogar em Portugal, onde viveu com a família durante quase uma década. "Eu sofria de asma, mas me sentia bem treinando futebol", conta o bailarino, ao se lembrar da infância passada nas cidades de Guimarães e Setúbal. Depois que os Garcia retornaram para Recife, Jorge descobriu as danças de salão. Aos 17 anos, já era especialista em forró, lambada e salsa. Um dia, viu um espetáculo da Compassos Companhia de Danças, que fazia da capoeira a sua principal técnica. Foi amor à primeira vista. Entrou para o grupo e começou a aprender maracatu, xaxado e baião. Não demorou muito, se deixou seduzir também pelo balé clássico "E me convenci de que a dança era tudo o que queria".
Em 1995, logo depois de chegar a São Paulo, foi admitido no Cisne Negro, um das mais tradicionais companhias brasileiras. Ali dançou coreografias de diversos autores contemporâneos, o que lhe rendeu, em pouco tempo, um convite para ingressar no Balé da Cidade de São Paulo, corpo estável do Teatro Municipal. Transformou-se, então, num de seus principais bailarinos e v irou coreógrafo. Na companhia, assinou pelo menos dois espetáculos marcantes: Divinéia, inspirado no livro Estação Carandiru, de Drauzio Varella, e R.G., uma homenagem ao centenário do compositor Radamés Gnattali. Paralelamente ao trabalho no Balé da Cidade, Jorge fundou o grupo P.U.L.T.S. (abreviação de Por Um Lugar Tão Sonhado), em parceria com o cunhado, Marcelo Bucoff. À frente da trupe, deu asas ao experimentalismo, atitude que lhe permitiu manter um pé no Municipal e outro nos palcos alternativos da capital paulista.
Em 2005, decidiu enfrentar o risco de se tornar um artista independente. Deixou o elenco do Balé da Cidade e formou a J. Garcia & Cia., com a qual já produziu três espetáculos. Dois deles Histórias da 1/2 Noite, baseado em contos de Machado de Assis, e Um Conto Idiota, sobre o universo dos palhaços e o cinema mudo serão apresentados nos dias 9 e 10 de julho, em São Paulo, no Panorama Sesi de Dança. O evento, anual , costuma reunir o que de mais expressivo acontece na dança do país. A expectativa é que Jorge e seu grupo se destaquem por lá. O fato de ter explorado com desenvoltura diversas fontes de informação ao longo da carreira, seja no universo pop, seja no erudito, rende ao coreógrafo um vocabulário muito inusitado e pessoal. Sem exageros, ele se apropria da cultura popular brasileira para promover interessantes diálogos com o cotidiano urbano e a complexidade da vida contemporânea.
Às vezes, confere um viés político às criações, como ocorreu em Divinéia, sempre com bom uso do humor e uma leveza que não prejudica a consistência. Outro aspecto que distingue as coreografias de Jorge são os movimentos construídos com o rigor da técnica clássica e a descontração da dança popular. "Sempre fui muito intuitivo, mas agora quero atuar com mais consciência e estudar mais intensamente a dramaturgia corporal", diz ele, disposto a refinar sua linguagem e, sobretudo, criar condições de trabalho estável para seu grupo.
Revista BRAVO! | Julho/2008
A instigante arte de Jorge Garcia
Crítica Helena Katz
O percurso profissional de Jorge Garcia como coreógrafo vem sendo solidamente construído, obra a obra. Na mais recente, Um Conto Idiota, recém-estreada na Galeria Olido, deixa muito mais claro o nascimento de uma escrita própria.
(...)Quem acompanhou as duas outras criações que fez para a sua companhia, Cantinho de Nóis (2005), muito próxima da arte popular do Recife, e Histórias da 1/2 Noite (2006), em torno do universo de Machado de Assis, tem a possibilidade de perceber intensidades novas no que seriam os personagens de Um Conto Idiota.
(...) Um Conto Idiota vem mais carregado de capoeira e de aikidô do que as peças que a antecederam, e talvez o aumento da dose dessas fontes de treinamento tenha colaborado no refinamento dos processos de composição de Jorge Garcia. Vale continuar de olho no seu trabalho, porque suas misturas prometem.
Folha de São Paulo, 20/03/2008.
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