segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Jorge e ela

Jorge e ela

para Jorge Garcia

Jorge não sabe
quem sabe de Jorge é ela
e nela Jorge se perde
no imaginário de se achar.

Mas achar-se é achá-la
pois se Jorge a possui
é por ela gerado.

Cúmplices na ousadia
reféns da utopia
tramam em segredo:
Ouroborus
mosaico
flor da manhã
homem e mulher
mensageiros do pássaro.

Tudo voa no mundo do seu Deus:
o braço que vai
o tronco que verga
o olhar que se alonga
o corpo invisível.

É dança – oração.
Exala o aroma da nuvem
em busca da forma imprecisa
música que pulsa no coração da terra.

Ela acorda.
Jorge ainda dorme
aninhado em suas tranças.
Sonham com o plenilúnio
a sombra das mangueiras
o burburinho na feira de domingo
o chão de terra - o futebol.


Juntos tecem os retalhos do que virá:
roupa sobre roupa até ficar nu
acender velas, soltar amarras, abandonar portos
a procissão dos peixes, o canto das baleias
o céu, com todas as estrelas, visíveis e invisíveis
a vida humana - casar, descasar, casar
a guerra, a paz, a rede perplexa na varanda.

E mais: o sol a pino, o concreto, o cactos,
a prisão, a abstração, o ruído, o suor
o incenso, a alquimia, o riso, a carícia.

Os dois saem pela janela:
- a procissão das formigas
- os liquens colados às árvores
- o menino e sua pipa
- a rua, o bar, a sinuca...

O relicário brilha por onde passa
símbolo do símbolo – Deus é!


Inês Ferreira da Silva Bianchi

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